APRESENTADO PELO IRMÃO LINDOMAR FURNIEL EM 22/07/2014
Vivendo em Israel há mais de quarenta anos, Leon
Zeldis, Cônsul Honorário do Chile em Tel Aviv , já ocupou o mais alto cargo da
Maçonaria israelense. Ele assinala que não existe impedimento entre o Judaísmo
e a Maçonaria. E mais: rabinos e hazanim (oficiantes cantores das
sinagogas) pertencem a
Ordem, e na cidade de Eilat, no extremo sul do país, na fronteira com o Egito,
uma Loja Maçônica chegou a funcionar em uma
sala da Yeshivah (escola religiosa para formação de rabinos). “A Maçonaria
Israelense é um exemplo de convivência e tolerância”, destaca Zeldis. “O que
procuramos mostrar é que é possível conviver, judeus e árabes, como irmãos.”
Nadim
Mansour, árabe palestino, de religião cristã ortodoxa, foi empossado em Tel Aviv como o Grão-Mestre da Grande Loja do Estado de
Israel, cargo que ocupou até o ano 2013.
A
Grande Loja de Israel teve já dois Grão-Mestres palestinos: Yakob Nazih, de 1933 a 1940, e Jamil
Shalhoub, de 1981 a
1982.
O Grão-Mestre nasceu em Haifa e se mudou para Acre aos cinco anos de idade; foi iniciado em 1971 na Loja “Akko”, da qual seu pai foi um dos fundadores, e em 1980 tornou-se seu Venerável. Nadim Mansour é também grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito.
O Grão-Mestre nasceu em Haifa e se mudou para Acre aos cinco anos de idade; foi iniciado em 1971 na Loja “Akko”, da qual seu pai foi um dos fundadores, e em 1980 tornou-se seu Venerável. Nadim Mansour é também grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito.
A
presença de um maçom de origem árabe como Grão Mestre de uma Loja Maçônica de
judeus, é uma demonstração de que existe uma luz no final do túnel, e que a
paz entre palestinos e judeus é possível sim! E não
somente a paz, mas a fraternidade pode reinar entre árabes e judeus, como
ocorre na Grande Loja de Israel.
A
prova maior do compromisso dessa Grande Loja com os princípios de “Liberdade,
Igualdade e Fraternidade” pode ser vista no Selo da mesma: a Cruz, a Lua Quarto
– crescente e a Estrela de Davi estão juntas, simbolizando o Cristianismo, o
Islamismo e o Judaísmo. Da mesma forma, a Bíblia, o Alcorão e a Torah estão no
Altar das Lojas, comprovando que todos os Irmãos, independente da fé professada,
estão imbuídos do objetivo de trabalhar pela felicidade da humanidade.
A
Grande Loja do Estado de Israel foi instalada em 20/10/1953, em Jerusalém. Porém ,
sua sede fica em Tel Aviv.
A 1ª Loja na região foi a Loja Rei Salomão Nº: 293, filiada à
Grande Loja do Canadá, e teve sua primeira reunião realizada nas chamadas
pedreiras do Rei Salomão no dia 07/05/1873. Cinco anos antes havia ocorrido uma
reunião no mesmo local, porém sem existir uma Loja regularmente constituída.
Posteriormente a isso, houve outras Lojas na região, filiadas a extinta Grande
Loja da Palestina.
O
Grão-Mestre da Grande Loja do Estado de
Israel foi o Irmão Nadim Mansour,
cidadão de origem árabe. Sua presença como Grão-Mestre demonstra que não
somente a paz, mas também a Fraternidade pode reinar entre árabes e judeus,
como bem ocorre naquela Grande Loja.
Por um mundo melhor
Existem várias maneiras de ajudar ao próximo. Ser maçom é uma delas.
Para Leon Zeldis Mandel, 82 anos, título de “Grão-Mestre, Soberano Grande
Comendador, Grau 33” ,
a Maçonaria não melhora o mundo, mas os maçons, sim. Nascido na Argentina,
Zeldis viveu no Chile, formou-se engenheiro têxtil nos Estados Unidos e fundou,
em 1970, a
primeira Loja Maçônica de Israel de língua espanhola.
Escritor, poeta e conferencista, é autor de 15 livros e de mais de 150 artigos
e ensaios publicados em diversos idiomas. Seus livros, As Pedreiras de Salomão, Estudos Maçônicos e Antigas Letras foram traduzidos para o português.
Também é membro honorário da Academia Maçônica de Letras de Pernambuco.
Residindo em Israel desde 1960, Zeldis foi presidente do Supremo
Conselho do Rito Escocês Antigo de Israel. Suas atividades como conferencista e
profundo conhecedor da história da Maçonaria o levaram às principais cidades da
Europa e do continente americano. No Brasil participou do Congresso
Internacional de História e Geografia Maçônica, realizada em Goiana (1995). Foi
distinguido como membro honorário dos Supremos Conselhos da Turquia, Itália,
França e Argentina.
Com dois mil membros, a Maçonaria em Israel foi oficializada em
1953, mas desde o século XIX os maçons estão na Terra Santa. Em 1873 foi
instalada a primeira Loja regular
em Jerusalém. Depois ,
em 1890, outra loja foi constituída em Jaffa. Atualmente ,
setenta lojas funcionam em Israel, desde Naharía, ao norte, até Eilat, com um
número apreciável de irmãos árabes (cristãos e muçulmanos), funcionando em seis
idiomas, além do hebraico e do árabe.
A seguir, Zeldis responde as perguntas:
A Maçonaria existe desde os tempos de
Moisés ou é ainda mais antiga?
- As lendas maçônicas estão baseadas na época da construção do
Templo de Jerusalém pelo rei Salomão
e depois na sua reconstrução pelos judeus
que regressaram do exílio da Babilônia. Mas, para a Maçonaria, tudo isso não
passa de histórias mitológicas. O certo é que existiram na Europa associações
de construtores medievais (maçons operativos) e somente no século XVII
começaram a ingressar nas Lojas pessoas que não eram trabalhadores de
construção. Finalmente, no início do século XVIII as Lojas já eram totalmente simbólicas (maçons
especulativos). Depois da fundação da primeira Grande Loja de Londres, em 24 de
junho de 1717, a
Maçonaria Simbólica e Especulativa se propagou rapidamente pela Europa e por
todos os países onde existia a liberdade de consciência.
Quais sãos as principais atividades
sociais e humanitárias das Lojas?
- A Grande Loja realiza diversas obras de beneficência, mas, além
disso, cada Loja se preocupa em fazer trabalhos que
sejam bons para a comunidade. Minha Loja, a “La Fraternidad 62” , de Tel Aviv (que trabalha em espanhol),
nos últimos anos tem enviado material médico a um hospital, bicicletas a
meninos etíopes e, há pouco tempo, fez uma importante doação para uma
instituição que cuida de crianças com problemas familiares. A Ordem também
financia bolsas de estudos para estudantes pobres e presta ajuda a instituições
de assistência aos cegos, entre outras ações.
Como a sociedade israelense vê a
Maçonaria?
- Em geral, a Maçonaria é pouco
conhecida em Israel, porque as nossas atividades beneficentes são feitas com
discrição, sem publicidade. Todavia, personalidades importantes da sociedade
israelense são ou foram, no passado, maçons, incluindo aí juízes, médicos,
prefeitos e outros. O fundador da escola agrícola Mikveh Israel (a primeira
escola agrícola judaica moderna implantada na terra de Israel, em 1870), Carl
Netter, era maçom, assim como também foram o prefeito de Haifa, Shabetay Levy (
trabalhou para o Barão de Rothschild e foi prefeito de Haifa entre os anos de 1940 a 1951) e Itamar Ben
Avi (jornalista e escritor, ajudou a concluir o Dicionário da Língua Hebraica).
Todos são nomes de ruas em Israel.
É possível ser maçom e praticar o
judaísmo convencional?
- Não existe nenhum impedimento entre o Judaísmo e a Maçonaria. Nós
temos na Ordem rabinos e hazanim, e o ex-Grão Rabino do país, Israel Lau
(sobrevivente do campo de concentração de Buchenwald), apesar de não ser maçom,
assiste as nossas festividades e realiza conferências em nossas Lojas. Em Eilat, durante algum tempo, a Loja funcionou em uma sala da Yeshivah
local. O rabino também era maçom. Na história recente, os Rabinos Chefes da
Inglaterra e da África do Sul eram ambos maçons.
Qual é a visão dos judeus maçons
acerca da situação política do Oriente Médio?
- A Maçonaria israelense – seguindo a tradição das Lojas da Inglaterra e da Escócia - não tem
nenhuma interferência na política. O que procuramos demonstrar é que é possível
conviver em paz, árabes e judeus, tratando-se com afeto, como irmãos.
Qual é a importância da cidade de
Jerusalém na Maçonaria?
- A cidade de Jerusalém e seu Templo
têm um papel central nas tradições maçônicas. Nas escavações realizadas nas
bases do muro ocidental, o arqueólogo Warren descobriu uma sala que acreditava
ser um templo maçônico. Outros arqueólogos têm contestado esta suposição, porém
o fato é que no centro da sala existe uma coluna de mármore branca que não
chega ao teto, ou seja, não tem nenhum propósito estrutural. Quando Warren
explorou este recinto, havia duas colunas, como nos templos maçônicos (o inglês
Charles Warren conduziu importantes escavações em Jerusalém, entre 1867 a 1870).
A Maçonaria ajudou na Independência de
Israel?
- Como eu expliquei, a Maçonaria como instituição não representa
nenhum lado político, mas os maçons, naturalmente, podem intervir. Um dos mais
eminentes líderes sionistas, Zeev Jabotinsky (1880-1940), foi iniciado em uma Loja de imigrantes russos, em Paris. Alguns anos
atrás, tivemos em
nossa Grande Loja , um grupo inteiramente constituído de
militares e policiais.
Qual é
a relação entre a Maçonaria e os Essênios que habitavam as cercanias do Mar
Morto, 150 anos antes da Era Comum?
- Existem certos aspectos
dos Essênios, como o processo de ingresso e a ordem nas reuniões, que guardam
algumas semelhanças com a Maçonaria, mas não existe nenhuma relação direta.
Qual foi a contribuição do Judaísmo à
Maçonaria?
- Quase todas as palavras
de acesso e chaves secretas da Maçonaria são palavras
hebraicas. Além disso, a relação com o Templo de Jerusalém é fundamental na
Maçonaria. No entanto, é preciso dizer claramente que a Maçonaria não é uma
religião e não está ligada ao Judaísmo, a não ser por tradições que eu já
mencionei e o uso de palavras hebraicas.
Como a
Maçonaria avalia as campanhas transnacionais anti-Israel por parte da mídia e
ONGs de todos os tipos?
- A ignorância e o preconceito são difíceis de combater quando são
financiados por inimigos do progresso e da democracia. O exemplo mais
contundente de ignorância e fanatismo cego é o constante uso do “Protocolos dos
Sábios de Sião” para atacar tanto o Judaísmo como a Maçonaria, apesar de que
faz mais de um século que se demonstrou de forma indiscutível de que se trata
de uma fantasia anti-semita, baseada em um livro de um escritor francês (Joly)
e de um novelista alemão (Goedsche), escrita por um agente da Okrana (polícia secreta do Czar), em Paris. Não importa
quantas vezes se tem demonstrado a falsidade do livro, mesmo assim ele vem
sendo publicado nos países árabes e em outras partes do mundo. Não há outro
remédio do que seguir contestando as mentiras - com a esperança de que a
verdade finalmente triunfe – e educando as novas gerações nos princípios de
liberdade, igualdade e fraternidade.
Desafios do Século XXI
Em seu livro Antigas
Letras, Zeldis defende alguns
aspectos que devem mobilizar a atenção da Maçonaria no século XXI, no tocante a
sua importante função na sociedade contemporânea. A ênfase na educação (laica e
maçônica) é vital, segundo Zeldis, para melhorar a sociedade e o indivíduo. “A
importância da educação está precisamente em adquirir a capacidade de julgar,
categorizar, classificar e avaliar a qualidade da informação recebida, não
somente pelo seu conteúdo textual, mas também do ponto de vista ético e
teleológico.” A simples transferência de informações pode se constituir, na
maioria das vezes, um armazenamento de conhecimentos que oprime e sobrecarrega
o ser humano, impedindo-o de analisar e refletir sobre o essencial, escreve
Zeldis. E cita o filósofo alemão Friedrich Krause (1781-1832), para quem a
educação é algo que a grande parte das pessoas recebe, muitos transmitem, mas
muito poucos têm. “O que equivale a dizer que muitíssimas pessoas sabem
ler, porém são incapazes de reconhecer o que vale a pena ler, conclui o autor.
Maçons Ilustres
Elaborada pela loja São Paulo 43 – fundada em 1945 e que
desenvolve importantes projetos na área social - a listagem relacionando os
maçons ilustres de vários países inclui o nosso entrevistado, o portenho Leon Zeldis, nesse grupo seleto de
pessoas que “fizeram da virtude a sua principal causa na vida.” Ao lado de José
de San Martin, libertador da Argentina, Chile e Peru. Entre os brasileiros,
destacam-se os maçons Rui Barbosa, D.Pedro I, Padre Diogo Antônio Feijó,
Deodoro da Fonseca, Luiz Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), José Maria da
Silva Paranhos (Visconde do Rio Branco), Carlos Gomes, Epitácio Pessoa, José do
Patrocínio, Benjamim Constant, Casimiro de Abreu, Joaquim Rabelo e Caneca (Frei
Caneca), Oswaldo Aranha, Nelson Carneiro e Evaristo de Morais. Em relação aos
maçons de Israel, dois nomes são listados: Menachem Begin e Itzhak Rabin,
ambos primeiros-ministros e ganhadores do Prêmio Nobel da Paz (1978 e 1994). O
rei Talal Hussein, da Jordânia, e Abd El-Kader, fundador do estado da Argélia,
são os maçons ilustres dos países árabes.
Maçons no Museu do Holocausto
O Museu do Holocausto, em Washington
(United States Holocaust Memorial Museum), inaugurado em 1993 com a finalidade
de preservar a memória do mais trágico momento vivido pela humanidade no século
XX, coloca à disposição dos visitantes documentos e fotos que contam a história
da Maçonaria sob o regime nazista da Alemanha.
A perseguição teve início em 1933,
quando o governo alemão emitiu decreto visando a dissolução voluntária das “Lojas”.
Um ano depois, aquelas que ainda não tinham sido fechadas, foram forçadas pela
Gestapo (polícia secreta do partido nazista) a encerrar as suas atividades.
Ainda em 1934, outro decreto definia a Maçonaria como “hostil ao Estado” e
ilegal.
Apertando o cerco, o serviço de
segurança das SS (polícia nazista), comandado por Reinhard Heydrich, criou um
setor especial – a Seção 2/111 – voltado para a aniquilação da Maçonaria
e de seus membros. Uma campanha difamatória ligando os maçons a teorias
conspiratórias se estendeu por todos os países da Europa sob o domínio da
Alemanha Nazista. Em 1940, a
França ocupada declarou os maçons inimigos do Estado, pondo a polícia para
vigiá-los e prendê-los, e emitindo cartões de identificação semelhantes à
estrela amarela dos judeus.
É difícil
saber o número exato de maçons mortos em campos de concentração, porque muitos
foram arrolados como opositores ao governo ou associados aos focos de
resistência ao nazismo nos países invadidos. Atualmente, calcula-se que existem 6 milhões de maçons em 164
países (58% nos Estados Unidos), sendo que o Brasil congrega, aproximadamente,
211.000 mil distribuídos em 6.000 “Lojas” de um total de mais 9 mil instaladas
em toda a América do Sul.
(19 de maio/2007)
CooJornal no 529
(19 de maio/2007)
CooJornal no 529
Entrevista realizada por Sheila Sacks , jornalista
trabalha, há 25 anos, na Assessoria de Imprensa da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop). Também escreve para o NOSSO JORNAL-RIO, uma publicação voltada para a comunidade judaica.
Rio de Janeiro, RJ
trabalha, há 25 anos, na Assessoria de Imprensa da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop). Também escreve para o NOSSO JORNAL-RIO, uma publicação voltada para a comunidade judaica.
Rio de Janeiro, RJ
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